Foto: Leandro Lopes
ENTREVISTA
Por Leandro Lopes
Gustavo Arrais é hoje Secretário de Turismo de Minas Gerais. Turismólog de afeto, cientista da computação por formação, começou a vida profissional em uma fazenda da família, em Monte Verde, distrito de Camanducaia. “Era uma casa que a família alugava nos finais de semana e dias festivos”, lembra. Com o falecimento do seu pai, herdou a propriedade e fundou o primeiro hotel da região. “Parecia uma maluquice porque o lugar não tinha luz elétrica e a estradinha para chegar lá era quase deserta, chegava a crescer mato do tanto que o lugar era pouco visitado”, brinca. Hoje, porém, Monte Verde é um dos destinos mais procurados por turistas em Minas Gerais.
Foi empreendendo no hotel que Gustavo conheceu o turismo. “É apaixonante. Você passa a ter contato direto com outras histórias, outros causos. Passa a respeitar e conhecer melhor o ser humano, como ele vive, como ele mora. Assim passei a entender que turismo é cultura com doses generosas de curiosidade com o outro”, afirma. Desde então, passou a dedicar a vida ao setor. Fundou uma agência de viagens,
criou uma central de reservas, passou a colocar Monte Verde debaixo do braço para vendê-la Brasil afora. “Transformamos o lugar em “Terra do Romance”. Anunciei em jornais como Folha de S. Paulo, conquistei pautas em importantes veículos de comunicação e passei a ver o lugar receber cada vez mais pessoas de todo o mundo. Uma satisfação”, lembra.
Depois, Gustavo ainda passou pela faculdade de economia, mas foi sua carreira em entidades do turismo que encurtou o seu caminho até o governo. Ele foi fundador da Associação de Hotéis e Pousadas de Monte Verde e colaborou na consolidação do Circuito Turístico Serras Verdes do Sul de Minas, do qual virou Presidente. Depois, atuou como secretário municipal de turismo de Camanducaia e vice-presidente da Federação dos Circuitos Turísticos do Estado de Minas Gerais. Em 2016 virou secretário- adjunto da Setur-MG. Desde fevereiro de 2018 está, enfim, no comando da secretaria. A Revista SINDLOC-MG foi descobrir o que pensa o atual secretário sobre o setor.
O que é Minas Gerais do ponto de vista do turismo?
Minas Gerais não tem potencial turístico, como dizem. Minas Gerais é uma potência desde sempre! Todos os cantos desse estado tem sua gastronomia sofisticada, seus restaurantes organizados, seus queijos, suas hospedagens, suas histórias, enfim, Minas Gerais é uma verdadeira mina de turismo. Temos hoje 48 circuitos e mais de 100 municípios com governança turística. A economia desse lugar será baseada no aporte turístico, podem acreditar.
Os parques ajudam nisso?
Com certeza. Minas Gerais é um lugar rico em parques. Percebe como o ser humano tem descoberto os parques? E, melhor que isso: os ecologistas descobriram o ser humano! Agora, a cada visita de uma turma de pessoas a um parque, se ganha novos ativistas interessados em preservar a natureza.
Antes, o ser humano não podia acessar os parques, hoje eles colaboram com eles. Cada um que visita um parque vira um defensor, um militante do meio ambiente. Hoje, os parques fazem parte do nosso posicionamento de produto turístico, assim como a cultura e a história.
Você se preocupa com metas, com crescimento do setor?
Turismo não é ginástica de solo. Turismo é futebol. Na ginástica de solo quem define quem é melhor são os juízes, quatro ou cinco. Turismo, nesse sentido, é um lugar com muitos jogadores juntos e a bola precisa entrar no gol. Não adianta fazer futebol arte e perder de 7 a 1. Chegaram mais turistas? Caso não, não adianta ficar dizendo que fez política de estado, que investiu nisso e naquilo. Por isso, a gente quer sim mostrar nosso trabalho em resultados. Atualmente temos uma diretoria só para isso: acompanhar as métricas. Para se ter uma ideia, só em desembarques internacionais, aumentamos em 40% em 2017. Aqui o turismo é tratado com profissionalismo e técnica. E, para isso, é preciso saber onde canalizar energias, o que deu certo, o que não deu, etc.
Podemos dizer que o turismo em Minas Gerais vive bons dias?
Antes de tudo, o produto precisa ser bom. Não adianta a gente fazer promoções, viajar o mundo para vender o estado, fazer propaganda dos lugares, se o lugar não tiver potencial. E Minas Gerais sobra em potência. Veja o caso do carnaval de BH. Já estamos chegando em 4 milhões de pessoas. A gente investe, faz propaganda, anuncia a cidade mundo afora, realiza posicionamento claro de produto, mas nada disso adiantaria se o produto, ou seja, o carnaval de Belo Horizonte, não fosse bom. Ter algo bom a oferecer já é meio caminho andando. O resto a gente sabe fazer bem.
A Setur-MG tem uma preocupação muito grande com mecanismos tecnológicos, com a criação de apps e portais. Investir em tecnologia comunicacional é uma preocupação?
Mais do que ferramentas tecnológicas, a gente sabe que é preciso investir em comunicação. Turismo é feito de informações e quanto mais qualificada, farta, esteticamente agradável, quanto melhor são as informações, melhor se vende o turismo. É a informação que traz o turista. A falta de informação o esconde. Bem, e como eu passo esses conteúdos para frente? Via tecnologia, cada vez mais. E são essas ferramentas que acredito ser potenciais para expor o quanto o turismo mineiro é rico, o quanto ele é capaz de modificar as pessoas que aqui visitam, pessoas que poderão viver parques, história, cultura, gastronomia, etc. Por isso a gente investe nisso, mas também porque Minas Gerais, por incrível que pareça, era um estado muito pouco organizado nesse sentido. A gente estava próximo da época do Fred Flintstone. Nosso inventário era feito em Word. Como eu posso saber quantas salas de reuniões temos em terras mineiras? Quantas piscinas existem capazes de aportar um campeonato de natação, por exemplo? Quantas quadras de tênis existem? Nada disso a gente tinha sistematizado. Criamos uma plataforma onde todos os municípios cadastram seu inventário turístico. De hotel até pedalinho, de sala de convenção até guia turístico. E o melhor: é tudo atualizado em tempo real. Todas as cidades possuem o sistema e quando um hotel atualiza os dados da quantidade, por exemplo, das suas acomodações, o sistema se atualiza. Não precisamos ficar levantando dado por dado. Tudo é on-line. Está tudo lá no www.minasgerais.com.br.
No final do ano passado o Governo de Minas Gerais aprovou sua Política Estadual de Turismo. O que isso quer dizer na prática?
É uma exigência para todo o munícipio que queira participar de qualquer política estadual de turismo, que tenha uma lei própria de turismo. A gente exige isso, mas o estado não tinha a sua lei. A gente precisava de uma certidão de nascimento. A Política Estadual de Turismo é isso. Um exemplo prático? Dentro da lei existe a criação dos Circuitos de Turismo, que já existem há mais de 15 anos, mas agora é lei. Tem que ter.
Além disso, um lugar onde existe uma Política específica quer dizer o quê? Quer dizer que se trata de um lugar onde existe uma preocupação com o turismo. A criação da Política é uma afirmativa de que estamos e queremos trabalhar muito para o turismo e para os turistas que aqui visitarem. Isso é a Lei. Agora vamos para o decreto que detalha a lei. Por exemplo, para os municípios receberem ICMS turístico, é obrigatório que se tenha, entre outras coisas, o Comtur, Conselho Municipal de Turismo, e o Plano de Desenvolvimento de Turismo. O que quer dizer? Quer dizer que uma cidade precisa saber claramente quais são seus potenciais turísticos. O Plano de Turismo é isso: investir em teleférico em uma cidade que não tem uma bonita vista, não faz sentido. As gestões municipais, com Comtur, com o Plano, passam a trabalhar de forma mais profissional e técnica no seu posicionamento de produto. Ser conhecido não é ser desejado, importante que se diga. É justamente isso que a Política Estadual de Turismo vai fazer essas cidades perceberem.
Como os empresários do setor de locação de automóveis podem colaborar para potencializar ainda mais o mercado turístico mineiro?
Primeiro: fazendo um bom trabalho, deixando os turistas confortáveis, bem atendidos. Depois, se unindo. Quando todo o trade atua junto, se reúnem, discutem, debatem ideias, colocam um monte de gente para pensar. É nesse contexto que entra o estado. É aí que a gente pode trabalhar para bens comuns do setor. Se o trade entende que é hora de investir em propaganda, vamos investir. Enquanto isso, o trade garante uma boa entrega de produtos e serviços. Assim a gente vai caminhando juntos e melhorando dia após dia. Eu, sinceramente, estou muito feliz com o trabalho da Setur-MG dos últimos tempos e todo o empresário pode ajudar a ser melhor a cada dia. Basta atuar em conjunto com as entidades do setor .